terça-feira, janeiro 19, 2010

Mortal

Ando a passar por uma fase em que estou demasiado consciente da minha condição mortal. Para terem uma pequena noção, sempre que entro num carro, passa-me pela cabeça que pode ser a minha última viagem.

Não é uma questão de pessimismo porque todos vamos morrer e, no fundo, todos temos noção disso, uns mais que outros. É um facto, uma constatação.

A questão aqui é que me começo a sentir bastante inútil. Não tenho grandes sonhos de ser famosa, nem algo que se pareça, mas gostava de deixar uma marca. Penso que é por isso que se costuma dizer um livro, uma árvore e um filho.

O filho perpetua o nosso nome (no caso dos homens...), o nosso sangue e as nossas memórias. Um filho é como um álbum onde, cuidadosamente, colocamos fotografias. Eu ainda ouço falar dos meus bisavós, e conheci três deles. Quatro gerações...apenas possível porque cada uma delas deu origem à seguinte.

A árvore, é fácil. As árvores demoram décadas até atingirem o seu pleno potencial. Uma árvore vai permanecer, sem sombra de dúvida, muito mais que quatro gerações. Haverá marco mais estável que esse?

Sim...há. O livro. Um livro, seja ele qual for, é uma parte de quem o escreveu. Não significa que se goste do resultado final, mas é uma parte de si. Não significa que os outros compreendam, nunca ninguém perceberá a 100% Fernando Pessoa. Num livro, cada palavra, cada encadeamento de frases esteve um dia retido na mente de alguém. Cada imagem formada por ele, foi um dia apenas imaginação. Um livro...na nossa época, chegará sem dúvida muito mais longe no tempo que um filho e uma árvore. Um pedaço de nós poderá ser encontrado daqui a séculos (com sorte).

E sinto-me mortal e inútil, porque não tenho trabalhado para a realização de nenhuma destas metas. Porque efectivamente são metas que estabeleci para mim. Enquanto não houver uma marca minha, serei mortal. Enquanto não trabalhar na concretização dessas marcas, sentir-me-ei inútil.

1 comentário:

Lucifel disse...

Decidi dar-te uma "labareda" (what the hell is this name?) em relação a um texto muito bem escrito e principalmente densamente pensado.

O filho não perpetua o nome apenas no caso dos homens, se for mulher ela só tem de convencer o homem da importância que é o seu nome seguir e não deixar o egocentrismo ganhar mais uma vez na guerra dos sexos.
Há imensas marcas que podemos deixar com durabilidades diferentes mas é muito bom preservar memórias, imagens, odores, objectos antigos que são herança de uma família, de um apelido ao longo dos séculos...

A árvore é também um belo símbolo do que se pode atingir ao gerar vida na Natureza, deixarmos que a árvore nos mostre como crescermos e nos misturarmos no meio da vida selvagem que é a nossa vida, aprender a crescer, ter folhas e dar frutos.

But worry not, those mind states will pass, the happy and sad moments will follow each one in their time, but in the end the capacity you had to jump from one to another will give the world the person you trully were.

Kiss from L.