domingo, agosto 30, 2009

Dispositivo Psicológico de Defesa Pessoal

Ao longo dos anos tenho vindo a fazer alterações na minha maneira de ser. Todos temos algumas qualidades que gostaríamos de mudar, cabe a nós fazer alguma coisa para despoletar essa mudança.

Uma das coisas que tenho vindo a tentar mudar é a facilidade com que fico de mau humor. Não é uma repetição de coisas que já disse antes, não vou falar na besta que posso ser, mas sim do que fiz/faço para mudar isso. Ao longo do tempo fui fazendo uma auto-análise e concluí que muitas das vezes em que me chateava, era porque queria estar chateada. Vou tentar explicar melhor. Quando me chateio com alguma coisa, posso ficar muito tempo de mau humor, mas é porque quero, porque reparei que se me mentalizar da figura de parva que faço e que na realidade quero estar é bem disposta, consigo passar por cima do assunto. Confesso que às vezes continuo chateada porque acho necessário, como para dar a entender, sem sombra de dúvidas, qual é a minha opinião sobre qualquer que seja a situação.

Mas este post não foi originado pelos meus maus humores. Diz apenas respeito à facilidade com que passo por cima de determinadas situações. Da mesma forma com que deixo de estar chateada, também me posso mentalizar que não estou triste. É um dispositivo psicológico de defesa pessoal. Não me posso deixar estar triste com algo durante muito tempo. Isso não significa que não esteja um bocadinho triste, mas que levanto a cabeça para enfrentar o mundo. Este dispositivo passa por algumas fases e precisam de ser respeitadas...

1º Ficamos tristes. É normal, é saudável. Quem nunca ficou triste...tem um grave problema psicológico. A vida não é cor-de-rosa, não é um mar de rosas, não é fácil, portanto é normal que por vezes surjam situações que nos deixam tristes.

2º Precisamos que nos dêem espaço para sofrer. Sério, cada um de nós tem de encontrar forças dentro de si para superar o que quer que tenha atravessado o seu caminho. Não gosto que me apressem, aliás, detesto. A minha mãe tem a (grave) mania de me dizer para parar de sofrer, que preciso de ser mais como ela, que não posso deixar que as coisas me afectem tanto. O estranho é ela ainda não conhecer a filha depois de quase 23 anos. Eu sinto muito as coisas, sofro por mim e pelos outros (até mais pelos outros que por mim). Mas faz parte de mim... Cada pessoa precisa de diferente quantidade de tempo a superar um mesmo tipo de tristeza...

3º A tristeza começa a deixar-nos, gradualmente. A seu próprio tempo, a ferida sara. E sim, é uma ferida. Todos sabemos o que nos magoou, mesmo que já não doa, ou pelo menos que não o faça com a mesma intensidade. Isso deve-se somente ao facto de estarmos cheios de cicatrizes. Não somos sobreviventes de nenhuma guerra, mas há quem diga que a vida é uma batalha. Cada um de nós tem as suas próprias cicatrizes. Eu sei que tenho as minhas e não são poucas.

4º Olhamos para trás. Vemos o que nos magoou. Sabemos o que significou, sabemos a luta que fizemos para ultrapassar, damos valor a nós próprios por termos saído de mais uma guerra com a vida, com mais ou menos cicatrizes. Olhamos as cicatrizes e sabemos o que aprendemos com cada uma delas. Volta a doer um pouco, mas são apenas ecos da dor que um dia sentimos. São lembranças. Vão ficar connosco para sempre. São parte de nós, de quem fomos, de quem somos.

Encarem a tristeza como parte natural da vida. A tristeza faz-nos pensar no que está mal na nossa vida, faz-nos tomar decisões. Faz-nos avançar quando estamos parados há muito tempo. Dêem-se espaço para estar tristes. Só não se deixem afogar na tristeza de forma irreversível...

6 comentários:

Unknown disse...

puf. Tiraste-me o folgo.
E sim, ser triste, estar triste, não é mais do que um personagem que faz parte do teatro da vida :p

Afal disse...

Tirei-te o fôlego..isso é bom ou é mau?

C. disse...

Elisabeth Kubler-Ross explicou essas etapas...
1º - Negação e isolamento
2º - Raiva
3º - Negociação
4º - Depressão
5º - Aceitação

De certeza que as conheces, e apesar da Psicologia ser sempre um pouco ambígua há certas coisas que não têm escapatória. Estas etapas nunca são fixas, obviamente, mas são uma base para qualquer tipo de evolução pessoal.
Ficamos tristes. A tristeza vai "desaparecendo". E por fim, aceitamos.

Não vou estar aqui com palavras técnicas ou palavras de sapiência psicologica (que não tenho lol), vou dizer-te apenas que...

...quando encontramos, finalmente, um significado para o nosso sofrimento ou luta, chegamos a sentir um certo alívio. Pois alguma coisa começa a fazer sentido ou então um grande peso que temos sobre os ombros começa a desvanecer.

É um óptimo sentimento... O sentimento de crescer.

E crescer, nunca é fácil. (infelizmente)

Afal disse...

Crescer dói. Esta perda...confundiu-me. Sempre pensei que ele me ia fazer crescer, mas noutro sentido. Nenhuma das formas teria sido fácil. Esta é uma cicatriz que vou recordar pela vida inteira.

Tali disse...

Adorei este post, acho que veio mesmo a calhar com o que eu tenho sentido ultimamente..
Tenho andado triste, talvez saiba os motivos ou talvez penso que sei.. Tenho uma grande confusão na minha cabeça, mas nada que não se resolva (penso eu!).
Como li há poucos minutos atrás: 'Uma formiga, quando quer voar, cria asas' e acho que assim deve ser..Quando queremos, temos que 'criar' essas tais asas, não podemos deixar que ninguém nos proibida de viver, de ser feliz, de rir, de chorar, de sentir saudades, solidão! Como disseste, todos agimos de maneira diferente. Temos é que saber respeitar a reacção de cada um!
Se puderes, e quiseres, passa pelo meu e lê :)

Beijão, amiga linda!
Te adoro daqui até a Lua em pacotinhos de açúcar! E sim, uma das minhas tristezas é não poder estar SEMPRE contigo! Para que isso se resolva, estou a construir as minhas wings :D
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Afal disse...

Já comentei.

Adoro-te linda, daqui à lua em colherzinhas de café. Tenho saudades tuas.