segunda-feira, abril 20, 2009

Sangue

Penso, penso e volto a pensar.

Ainda não estou preparada para te confrontar. Ainda não cresci o suficiente. Ainda me metes medo, porque o meu trabalho psicológico comigo própria ainda não está concluído.

Não sou influenciável, mas tu bem tentas, ou pelo menos tentaste. Sei que se der espaço, vais voltar a tentar. As minhas defesas em relação a ti ainda não estão suficientemente fortes.

Quero voltar a falar contigo, um dia. Quando eu estiver pronta. Quando for uma adulta plena. Quando não houver a mínima hipótese de romperes a minha barreira, o meu muro contra ataques psicológicos. Isto porque sei que vais tentar. É mais forte que tu, é a tua forma de ser.

Não me voltarás a ver fraca. Não foi assim que me viste quando decidi que ia cortar relações contigo (por imposição tua).

Foste tu que perdeste uma filha, eu não posso perder algo que nunca tive.

Não, nem tudo foi mau, não posso dizer que sim. Sei defender-me e acredito que o devo a ti, apesar de a minha mãe também ter feito um bom trabalho a esse nível. Por ti, eu começaria as lutas, as guerras. Por mim, por ela, não entro nas lutas por vontade própria, mas uma vez dentro delas, defendo-me. Devo-te isso. Mas devo a diplomacia (ou tentativa de) à minha mãe.

Devo-te o gosto musical alargado aos anos 80.

Devo-te quem sou, no fundo. Sem ti na minha vida, não me teria tornado a pessoa que sou. Quando mais não seja, pela minha luta por não ser como tu. Por não ser o "eu" que querias que fosse, feita à tua imagem.

Mas também te devo as barreiras que coloco entre mim e as outras pessoas. Devo-te a desconfiança nos homens. Devo-te, e possivelmente tenho de agradecer, o facto de fugir a quem me trata mal. Não to admiti, portanto não o vou admitir a mais ninguém.

És meu pai de sangue, biológico. O resto...fica com os remorsos e pensa neles.

1 comentário:

JM disse...

Pois, quando estamos mal, não é o sangue...a ligação biológica que nos vem ajudar. São as pessoas. De que interessa ter uma pessoa que só é o que é porque nascemos com o seu sangue? Na minha opinião, pai só há mesmo um. Mas isso é se houver sequer. No meu caso, posso dizer que tenho, não o pai perfeito, mas o pai que eu amo, apesar de não viver com ele há muito tempo. Mas conheço uma outra Ana escorpião que nunca teve pai (as escassas vezes que o teve foi monetariamente - e sabemos que isso não chega) e no entanto...não se sente menos pessoa por causa disso. Aliás, é a pessoa mais importante da minha vida, digo mesmo a minha alma gémea (já estamos juntas há muitas vidas inclusive). Isto tudo para te dizer que eu sei que isso dói. Mas tiveste uma mãe...não tiveste um pai, não verdadeiramente. Mas na minha opinião, não precisas. Tornaste-te na pessoa que hoje conheço sem ter um pai. E, como dás a entender, ganhaste armas que se calhar não terias ganho.