quarta-feira, outubro 12, 2016

À Prova de Fogo


Não há uma forma fácil de explicar isto e eu lembro-me apenas de uma: pensem na vossa casa de infância. A casa dos vossos pais, para quem já saiu. A casa dos vossos avós, ou de um tio, para quem continua em casa dos pais.

Agora lembrem-se de tudo o que aconteceu nessa casa: cada joelho esfolado, cada conquista, cada marca derivada de uma asneira, ou simplesmente da vossa evolução.

Lembrem-se daquele amigo que fizeram nesse espaço e em como o levaram convosco o resto da vida. Aquelas parvoíces que ou acabavam a rir à gargalhada ou a gritar um com o outro de um lado para o outro da sala.
Aquela prateleira que queriam tanto ter que não foram pedir a alguém que soubesse o que fazer para a pôr, fizeram-na vocês mesmos.
Aquela martelada que era suposto ter acertado num prego, mas que foi um bocado ao lado. O prego continuou fora da parede e a parede ganhou uma indentação.
Aquela marca no tecto, onde um dia se lembraram de tentar escrever dentro dos limites de uma folha, mas...ups, saiu fora!
Aqueles pioneses que bem tentaram que entrassem na madeira para conseguir que ficassem posters agarrados. Nem à martelada! Mas eventualmente, lá conseguiram.
Aquela mesa onde à socapa foram escrever o vosso nome.
Aquele sofá que encontraram algures na rua, abandonado por alguém, e que levaram para aquele espaço que era vosso. As histórias que o sofá podia contar...ainda bem que não podia falar!
As luzes de Natal que iluminavam o ano inteiro.
As fotografias na parede, se calhar de pessoas que nunca viram na vida, mas que fazia do espaço o que ele é, pedaços de memórias passadas.
As noitadas. Tantas noitadas! Rodeados de troféus, memórias, risos, lágrimas e, acima de tudo, companheirismo.


Agora, pensem em todas essas memórias que têm dessa casa, desse espaço, seja a dos pais, dos avós, ou tios. E imaginem observar ao longe todas elas a serem consumidas, uma a uma, e não poderem fazer nada.


Sangue, suor e lágrimas. Crescimento. Dor e alegria. Pedaços de nós, de cada um dos que passou por um espaço. O espaço marca-nos e nós marcámo-lo a ele. As nossas marcas desapareceram, foram consumidas. As dele ficam com cada um de nós.


Não era só um edifício. Não eram apenas salas utilizadas por tunas. Não era apenas material que estava lá dentro. Eram pedaços de história da passagem de cada um. Pedaços de nós que havia nas paredes, nas mesas, no chão, no tecto.


As memórias ficam, mas as marcas foram apagadas. 

https://www.facebook.com/fernando.rodrigues.549221/posts/1087518688022412 

2 comentários:

C. disse...

Credo :/ como é que isso aconteceu?

Beijinhos,
O meu reino da noite ~ facebook ~ bloglovin'

Afal disse...

Ainda não se sabe, Kori. Ou curto-circuito ou fogo posto...